Técnica polêmica alivia dor em tratamento dentário








Um homem de máscara está operando uma broca tão ruidosa que faz com que a pessoa sinta que há uma escavadeira em ação dentro de sua cabeça. Um tubo que pende da boca suga a saliva. Os dentes são borrifados por uma cortina de água, e a sensação é uma mistura de engasgo e afogamento.

O homem se aproxima cada vez mais do rosto com uma agulha que, da posição em que a pessoa está sentada, parece ter o tamanho de uma espada e que, se inserida nas gengivas sensíveis de qualquer um, causará horas de paralisia facial.

Mas e se pudéssemos esquecer que fomos ao dentista? E se as máscaras, a broca e agulha fossem apenas momentos de um sonho incoerente, e fosse possível apagar essas imagens da consciência, como uma espécie de brilho eterno de uma boca sem manchas?

E se você fosse dentista e pudesse cobrar centenas de dólares pela promessa dessa gloriosa amnésia, e assim ganhasse acesso a um vasto mercado de pacientes que se escondem de tratamentos dentários há anos?

É para isso que serve a odontologia de relaxamento, um conceito atraente para o grande número de pessoas que temem e evitam dentistas. Trata-se de um nicho de rápido crescimento e forte controvérsia no mundo da odontologia, que envolve sedar pacientes adultos com medicamentos de combate à ansiedade e soporíferos, para qualquer forma de procedimento, de limpezas e obturações a tratamentos múltiplos de canal.

Nos últimos cinco anos, milhares de dentistas foram treinados a administrar medicamentos a pacientes ansiosos, com o uso de drogas que, segundo os médicos, criam uma amnésia amena em pacientes que continuam despertos mas não alertas, e podem esquecer toda a experiência, ou lembrar dela apenas da maneira mais vaga.

Mas a prática vem atraindo crescentes críticas de médicos e dentistas que dizem que ela apresenta um perigoso risco de uso excessivo de anestesia por dentistas que, em muitos casos, dispõem de apenas 24 horas de treinamento no método, e não estão equipados para monitorar seguramente o uso desses medicamentos.

Dentistas e outros profissionais médicos dizem que o crescente uso da odontologia de relaxamento está sendo propelido pelo crescente conforto do público quanto ao uso de remédios para toda espécie de problema, de depressão a disfunção erétil, e também pelos avanços nos métodos de anestesia, que permitem aos pacientes retomar suas atividades apenas algumas horas depois de serem medicados.

"Isso vem sendo uma tremenda vantagem para muitas pessoas que, de outra maneira, teriam negligenciado sua saúde dentária, o que por sua vez afetaria sua saúde de maneira mais ampla", disse o Dr. Michael Silverman, dentista que, em 2000, fundou a Organização Odontológica pela Sedação Consciente, que oferece cursos de treinamento 24 horas, reúne mais de oito mil dentistas e liderou boa parte dos esforços de promoção das novas práticas.

Depois de alertar que o crescente uso dessas técnicas não contava com regulamentação adequada, a Associação Odontológica Norte-Americana no ano passado publicou diretrizes sob as quais os dentistas precisam de pelo menos 24 horas de treinamento no uso da técnica e 10 experiências clínicas de aplicação dos medicamentos, incluindo três casos reais e um que envolva retirar o paciente de um estado de sedação profunda. Os demais casos podem ser simulados, ou assistidos em vídeos.

Quarenta Estados norte-americanos, em resposta a relatórios sobre exageros no uso de sedativos, adotaram as diretrizes como regulamentos oficiais, desenvolveram normas próprias - mais ou menos severas que o padrão da associação - ou estão estudando reformas nos regulamentos do setor.

"Há pessoas cuja fobia de dentistas é tão intensa que elas preferem não se tratar - chegam até a remover os próprios dentes com alicates", disse Joel Weaver, porta-voz da associação odontológica e professor emérito de odontologia na Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual do Ohio. "Agora a odontologia tem uma chance real de tratá-las. Mas queremos fazê-los de maneira segura".

Para convencer os pacientes ansiosos a procurar um dentista, crescente número destes vêm divulgando as técnicas de odontologia de relaxamento, ou "sedação oral consciente", outro dos nomes da prática, em comerciais de TV, anúncios de jornais e na Internet, e obtendo resposta notável.

Karen O'Hanley, 45, de Quincy, Massachusetts, tinha tanto medo de dentista que passou quatro anos sem uma consulta, e tentou remover a placa bacteriana e as manchas de seus dentes com pinças.

"Eu ficava aterrorizado, completamente paralisadas", disse, descrevendo as visitas sempre ansiosas ao consultório odontológico, durante as quais sempre suava profusamente. Mas no ano passado ela experimentou a odontologia de relaxamento, depois de ouvir a respeito em um comercial de TV. O procedimento em geral envolve uma combinação do calmante Valium e de um soporífero vendido sob a marca Halcyon.

Ela disse que não se lembrava de coisa alguma da sessão em que teve três cáries obturadas, uma ponte e uma coroa instaladas.

O Valium em geral é administrado na noite anterior à consulta, e o soporífero uma hora antes. A dosagem e cronograma são ajustados de acordo com a reação de cada paciente.

As consultas que utilizam esse método podem ser mais longas - cerca de uma hora, em média, segundo os dentistas - porque, caso o paciente não esteja se sentindo confortável ou a sedação não seja suficiente, o dentista pode administrar mais medicação. Mas os profissionais que usam o método dizem que os pacientes podem ganhar tempo, em longo prazo, porque cada sessão permite que mais trabalho seja realizado.

Agora que Hanley os problemas de um lado de sua boca, no ano passado, ela diz que estaria disposta a retornar. Ela não se incomoda com o custo de US$ 400 dos sedativos, além da conta odontológica de US$ 7 mil, apesar de seu seguro só ter coberto US$ 1,5 mil do custo.

"Não lembro das agulhas, dos engasgos, da água", diz. "E com certeza não lembro de ter passado cinco horas na cadeira".




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