Bruxismo e a emoção







A palavra "bruxismo", que provem do Grego "brugmós", pode ser definido como um hábito parafuncional, isto é, não relacionado à execução das funções normais, e que consiste em movimentos involuntários ritmados e espasmódicos de ranger ou apertar os dentes.

Na posição de descanso da boca, os dentes nunca devem se tocar!!! Os dentes se tocam somente durante a deglutição; isto representa 10 a 20 minutos de contatos dentários por dia. O contato além deste período é considerado parafuncional e é uma das maiores causas do aparecimento e manutenção das dores da face e dos distúrbios da ATM. Antoon de Laat, 2007

Segundo estudos epidemiológicos, 80 a 90% da população apresenta sinais e sintomas do bruxismo, porem só 5% a 20% destes indivíduos têm consciência deste hábito.

Os sinais e sintomas mais freqüentes do bruxismo são:

dores na região das ATMs;
fratura de dentes;
Músculos da face hipertrofiados, ou ainda cansados ou doloridos;
Redução da capacidade de abertura da boca (principalmente ao acordar);
Presença de facetas dentais, polidas e brilhantes nos dentes anteriores bem como seu tamanho original reduzido, decorrente da atrição;
Dores de cabeça freqüentes, em especial na região temporal, decorrente da hiperatividade do músculo temporal.

Os trabalhos mais recentes a respeito deste distúrbio são categóricos em afirmar que o bruxismo se divide em duas entidades distintas:O bruxismo diurno ou de "vigília" e o bruxismo "do sono"; cada um com as suas particularidades, e que podem, as vezes, ocorrer juntos.

A prevalência do bruxismo diurno, na população em geral, é altíssima (os dados são imprecisos, porém, alguns estudos falam em índices de quase 50 % da população), sendo que o "apertamento" é a característica mais comum deste distúrbio cuja sintomatologia dolorosa é mais freqüente de que no "rangimento" - que ocorre mais no bruxismo do sono.

"Os pacientes portadores de mialgias faciais tem 4 vezes mais contatos dentários parafuncionais durante o dia de que indivíduos sem dores".
Sandro Palla, 2006

Esta parafunção diurna parece estar associada a distúrbios psicosociais e tensão emocional de indivíduos que, normalmente, exercem atividades profissionais estressantes ou que requerem grande concentração mental (como permanecer horas em frente a uma tela de computador lendo textos, fazendo cálculos; trabalhar com microscópio...) ou uma atividade de extremo esforço físico (esportistas, por exemplo).

O bruxismo do sono, que é descrito como uma parassonia ou, um distúrbio do movimento, acomete aproximadamente 10% da população sendo que o "rangimento" é mais freqüente (porém o apertamento também ocorre) e que a sintomatologia dolorosa decorrente desta parafunção é inconstante e mesmo, pouco freqüente.

Os indivíduos portadores de bruxismo do sono apresentam, na sua maioria, um sono normal do ponto de vista de duração e de eficiência. Contudo, muitos destes pacientes relatam, freqüentemente, fraturas de dentes ou restaurações. Isto se deve ao fato que estes pacientes chegam a desenvolver "cargas de apertamento" de quase 500kg/p e muitas vezes os dentes ou as restaurações não suportam a pressão e quebram!

Em nível de comparação, a força de apertamento exercida pela mastigação de um alimento chega aos 25 kg/p, pela deglutição á 30Kg/p e pelo bruxismo noturno a quase 100 kg/p, mas pode atingir 500 kg/p; Isto quer dizer, que o apertamento durante o sono pode chegar a ser 20 vezes maior do que no apertamento fisiológico!

Sabe se também que estes episódios de "bruxismo do sono" têm, em media, uma duração de 8 segundos e se repetem até 6 vezes por hora.

Os estudos mostraram que as queixas de apertamento ou rangimento dentário, durante o sono, decrescem no decorrer da vida (14% na infância , 8% no adulto e 3% no idoso -acima de 60 anos), e que o bruxismo na infância pode ser considerado "fisiológico".

Em relação á etiologia do bruxismo do sono, um estudo publicado em 2009, revelou que, contrariamente ao que se acreditava:

"Não existe nenhuma evidencia de que o bruxismo do sono esteja relacionado a distúrbios psicosociais e emocionais".
Manfredini, Lobezzoo, JOP, 2009

Isto quer dizer, que o paciente que range os dentes durante o sono nem sempre é uma pessoa tensa, ansiosa ou estressada durante o dia!!!

Outra afirmação importante deste estudo é que o bruxismo do sono, tendo origem no sistema nervoso central, não poderia ser causado por desequilíbrios oclusais (contatos prematuros, interferências oclusais) e assim o tratamento deste distúrbio não deveria se focar apenas no restabelecimento da harmonia oclusal (através de ortodontia, ajustes oclusais...).

"Não se pode descartar completamente a oclusão. Mas tanto o contato prematuro não causa bruxismo como uma oclusão perfeita pode ser palco de um bruxismo severo". O tratamento do bruxismo com ajuste oclusal não é mais aceito, embora tenha quem ainda acredite nisso!!!
Siqueira, Lobezzoo, 2001

De fato, os estudos mostram que vários fatores podem estar relacionados com o aparecimento do bruxismo, tais como:

Desequilíbrio entre os neurotransmissores serotonina e dopamina.

Os inibidores seletivos da Serotonina, como a Fluoxetina, Sertralina, Amitriptilina, em doses altas, podem exacerbar o bruxismo;

O álcool, a nicotina, a heroína, a cocaína também podem provocar um bruxismo secundário;
A anfetamina aumenta o bruxismo diurno em 64% e em 47% o bruxismo do sono;4 copos de vinho (estado de dependência alcoólica segundo a OMS) aumentam em 60% o bruxismo noturno;
2 vezes mais bruxistas nos fumantes. Porém não se sabe se a nicotina, diretamente promove o bruxismo, ou se é o comportamento do paciente que também é estressado, bebe, toma café;
fator hereditário;

"Não existe atualmente uma estratégia específica, tratamento único ou sequer cura para o bruxismo"

Recomenda-se, portanto, tratamento comportamental, odontológico, farmacológico e suas combinações, de acordo com o perfil do portador, para alívio dos sintomas.

O tratamento odontológico do bruxismo "do sono", com placas de relaxamento muscular, tem como objetivo prevenir danos das estruturas orofaciais e aliviar a dor craniofacial, através da mudança de comportamento induzida pela presença deste "corpo estranho".

O tratamento comportamental, indicado principalmente para o bruxismo diurno, inclui técnicas de relaxamento, terapia cognitivo comportamental como o "gerenciamento do estresse" e conscientização dos hábitos parafuncionais e a abstinência de drogas estimulantes.


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