O diabete no dentista








Muita gente carrega mais açúcar no sangue do que deveria e nem desconfia disso. Essas pessoas também nem imaginam que uma visita ao dentista contribui para flagrar o diabete. A fim de provar que a cavidade bucal pode delatar o problema, a Columbia University College of Dental Medicine, nos Estados Unidos, examinou 601 indivíduos com 30 anos de idade ou mais e que ainda não haviam sido diagnosticados com a doença. Ao iniciarem o estudo, os pesquisadores traçaram uma meta: encontrar as principais pistas capazes de denunciar que a glicose estava nas alturas.

Depois de cruzar os resultados das consultas de cada um dos participantes e dos exames de hemoglobina glicada, que nos dá a média de açúcar na circulação dos últimos 90 dias, os cientistas descobriram que, para aqueles que relataram ter pelo menos um fator de risco para o diabete — como o sobrepeso —, a falta de dentes e as inflamações crônicas da gengiva eram um indício do mal. "Conseguimos identificar níveis elevados de glicose em 36% dos voluntários", conta a dentista Evanthia Lalla, uma das autoras da pesquisa. Dito de outro jeito, uma visita a esse especialista ajuda a descortinar uma enfermidade que, na maioria das vezes, se desenvolve sorrateiramente, abalando a saúde do corpo inteiro.

O sobe e sobe da glicose

Quem é diabético lida constantemente com a baixa imunidade, já que a atuação das células de defesa fica comprometida por causa da hiperglicemia — quando a corrente sanguínea se torna, por assim dizer, mais adocicada do que o ideal. E os dentes não são exceção à regra. "As infecções progridem mais rápido e provocam um estrago ainda maior", explica Elaine Escobar, coordenadora do curso de odontologia do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo.

Para essas pessoas, se a higiene oral não for mais cuidadosa do que a de praxe, tende a surgir um acúmulo da placa bacteriana, o popular tártaro, que vai originar a gengivite — caracterizada por sangramento e inchaço. "E, se não for tratado, esse quadro costuma evoluir para a periodontite, que danifica as estruturas de suporte ao redor do dente, chegando a resultar em queda", explica Evanthia.

Quando as portas se abrem para as bactérias, é bem difícil fechá-las. "Por causa da menor eficiência das células defensoras, o processo de reparação das doenças gengivais é mais lento e demanda um maior zelo", alerta Elaine. A hiperglicemia, além de favorecer a entrada de micróbios estranhos, interfere na locomoção dos nossos soldados internos e na síntese de colágeno, proteína encarregada de cicatrizar a gengiva inflamada.

"Tudo isso também está relacionado à diminuição da qualidade e da quantidade de saliva", diz Alexandre Fraige, diretor do Departamento de Odontologia da Associação Nacional de Assistência ao Diabético. Nos portadores de diabete, esse detergente natural não atua como esperado (veja o infográfico na página seguinte).

Debelar infecções na boca também é uma forma de frear o mal do sangue doce. "A periodontite, por exemplo, exacerba a resistência à insulina", esclarece o endocrinologista Carlos Eduardo Couri, autor do livro O Futuro do Diabete (Editora Abril). Aí, nesse caso, esse hormônio não consegue desempenhar sua função primordial, que é botar o açúcar para dentro das células. "Podemos dizer, assim, que a situação é uma via de mão dupla. O diabete dificulta o tratamento das doenças periodontais e elas agravam ainda mais o diabete", complementa o odontologista Walter Bretz, professor da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.

Mas, mesmo quando a infecção está em um nível avançado, é possível restabelecer a saúde oral e assumir as rédeas da doença. O acompanhamento odontológico, juntamente com uma alimentação adequada, vai, aos poucos, regulando a glicemia. "Todo endocrinologista deve orientar o diabético a ir ao dentista", diz Couri. Aí, as visitas à cadeira desse especialista passam a ser trimestrais. "Quando os profissionais conversam, o tratamento fica mais fácil." Agora só resta uma pergunta: já fez seu checkup odontológico?

Sinais na boca de um sangue doce demais

> Boca seca
> Aftas
> Úlceras
> Fissuras na língua
> Mau hálito
> Dores na língua e na mucosa
> Lesões herpéticas
> Cáries
> Comprometimento
> do esmalte
> dentário

Como o açúcar do sangue prejudica o sorriso
Não basta evitar guloseimas. A doçura da circulação também traz ameaças


1. A saliva em pessoas com os níveis de açúcar normais é espessa, criando uma camada de proteção eficaz.

2. Já nos diabéticos, ela é mais escassa, tem menos fatores de proteção e carrega glicose, que vai ser digerida pela bactéria, favorecendo a cárie.

3. Ao ser atacado pelas bactérias, o corpo recruta células de defesa. Nos diabéticos, porém, elas até chegam ao campo de batalha, mas sem energia, já que a insulina não as supre com açúcar. Daí, o fígado passa a usar as reservas de glicogênio, liberando mais e mais glicose. Esse é um dos motivos pelos quais as infecções orais aumentam a glicemia no organismo.

Testes para checar a doçura no sangue


Glicemia
É a famosa picada no dedo. Dosa o nível de glicose circulante no corpo naquele momento. É importante lembrar que o resultado de uma pessoa medicada ou em jejum pode apresentar alterações.

Hemoglobina glicada
Conhecido por ser o melhor método de controle glicêmico, reflete a média de açúcar no sangue dos últimos 60 a 90 dias. Por esse motivo, não registra variações bruscas. O resultado sai em até 48 horas.

Tolerância à glicose
São coletadas duas amostras de sangue e, no intervalo entre elas, a pessoa ingere uma solução açucarada. O laboratório compara a taxa de glicose de ambas para revelar a resistência à insulina de cada indivíduo.




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