No decorrer das últimas duas décadas, a Odontologia sofreu inúmeras mudanças. A principal delas foi a adoção de uma filosofia preventiva, com o objetivo de se alcançar uma saúde bucal perfeita. O dentista redefiniu seus padrões de atendimento, preocupando-se, não mais, com o material a ser utilizado para restaurar um dente cariado, mas, sim, em como evitar o desenvolvimento da cárie dentária.
Nesse aspecto, a prevenção é o fundamento básico da odontologia moderna. A atuação do cirurgião-dentista passou a ser mais ampla e precoce. Com esse intuito, foram dados os primeiros passos em busca de um futuro cada vez mais saudável, buscando-se eliminar o estigma de que o Brasil é o país dos desdentados.
Por conseguinte, a odontologia, especificamente a odontopediatria, voltou suas atenções para a primeira infância (0 a 3 anos de idade), com fins a promoção de saúde. Aqueles pais que antes só procuravam o dentista quando o seu filho tivesse 4 ou 5 anos de idade, começaram a perceber que quanto mais cedo isto ocorresse, maiores as possibilidades de, no futuro, terem uma saúde bucal perfeita. Pacientes com idades entre 6 e 9 meses, tornaram-se rotineiros nos consultórios odontológicos.
Todavia, pairava no ar a seguinte questão: Por que não atuar de forma mais precoce ainda, envolvendo não apenas somente o bebê, mas a gestante? Buscava-se atingir o ideal! A prevenção começaria in utero, sendo a futura mamãe a peça fundamental de todo esse processo. Estabelecia-se a Odontologia Intra-Uterina ou Odontologia Para Gestantes.
Tornou-se cada vez mais comum o trabalho em conjunto de odontopediatras, obstetras, neonatologistas e pediatras, com o intuito de promover a saúde global do binômio mãe/filho.
É sabido que o desenvolvimento da cavidade oral da criança inicia-se intra-uterinamente, nas primeiras semanas após a concepção. Por esse motivo, a gestante deve ter uma dieta equilibrada (nessa período é comum as mamães terem os conhecidos “desejos”, ocasionando aumento exagerado do consumo de açúcar) e uma higiene oral adequada, além de uma perfeita saúde geral.
É fato rotineiro as gestantes nos procurarem dizendo que durante a gestação “seus dentes tornaram-se mais fracos e quebradiços” e “as gengivas começaram a sangrar de forma espontânea”. Devemos informá-las que, comumente, estes fatos são decorrentes de uma higiene bucal deficiente aliado à alimentação inadequada e que durante o período gestacional, a visita ao dentista não deve ser relegada a segundo plano. Em muitos casos, as gestantes deixam de ir ao consultório odontológico rotineiramente (em algumas regiões do Brasil, existe a cultura popular de que a gestante não pode “tratar dos dentes”, por ser perigoso - o que, de fato, não é verdade).
Muitas vezes, os famosos “desejos” levam a um maior consumo de carboidratos e açúcar (na forma de bolos, doces, biscoitos, balas, chocolates, etc), os quais por serem consumidos com freqüência, ocasionam a queda do pH bucal, dificultando a volta ao nível normal (processo de desmineralização e remineralização do esmalte dentário), contribuindo para a formação da placa bacteriana e ao mesmo tempo, propiciando o ambiente adequado para o desenvolvimento de bactérias cariogênicas e, conseqüentemente, novas lesões de cárie.
Portanto, é muito importante para a saúde de mãe/filho a adoção de uma dieta equilibrada, contendo todos os nutrientes (vitaminas, sais minerais, cálcio, proteínas, etc) que propiciem a formação e o correto desenvolvimento do bebê.
Outro aspecto a ser destacado para a obtenção de uma saúde bucal adequada diz respeito à higiene bucal. É de suma importância uma escovação correta, bem como a utilização do fio dental. As pastas de dentes (cremes dentais) presentes no mercado são de excelente qualidade e contém flúor em sua composição. Quanto à escova dentária, deve ter a cabeça pequena e as cerdas macias, permitindo a escovação de todos os dentes e, ao mesmo tempo, massageando a gengiva. É importante que o seu dentista a oriente quanto à técnica de escovação correta e uso do fio dental. Caso sejam observados áreas de sangramento quando da escovação, estes sinais podem ser indicativo de uma gengivite de grau leve, devendo a gestante procurar o dentista.
Com relação a realização ou não de tratamento durante a gravidez, é lícito afirmar que independente do mês, a gestante poderá receber tratamento odontológico durante qualquer período gestacional, muito embora o segundo e terceiro trimestres sejam os ideais devido à maior estabilidade. Claro que alguns cuidados devem ser observados. Por exemplo, sendo necessário o exame radiográfico, o mesmo deve ser realizado observando as normas de proteção (uso de avental de chumbo, protetor de tireóide, etc.), e que no primeiro trimestre da gravidez não é recomendável sua execução.
Portanto, faz-se necessário o atendimento multidisciplinar, com o cirurgião-dentista (odontopediatra ou não) atuando em conjunto com o obstetra, fornecendo informações à futura mamãe (orientações quanto à dieta, higiene bucal, uso racional do flúor, amamentação, importância dos dentes decíduos – dentes de leite, primeira visita do bebê ao dentista, etc), redefinindo os padrões de atendimento em um contato preventivo amplo, com vistas à promoção de saúde do binômio mãe/filho.
Espero que você tenha gostado da nossa abordagem. Veja essas Dicas para Profissionais:
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