Pesquisador fala sobre o uso de células-tronco na odontologia








Um verdadeiro tesouro que traz a expectativa de um futuro promissor e não muito distante. As células-tronco são capazes de originar outras células possibilitando o tratamento de muitas doenças, como por exemplo, o câncer. Com o avanço das pesquisas, especialistas de diversas áreas da medicina já podem adiantar muitos benefícios que estão por vir, e na odontologia não poderia ser diferente. O Dr. Vinícius Marchiori é odontólogo e especialista em biologia celular, atualmente desenvolve com o seu grupo de pesquisa um projeto para regenerar o osso que sustenta os dentes. Ele esteve recentemente em congressos que tratam deste tema e explica melhor as recentes descobertas.

e-Band Repórter - O tratamento dentário com células-tronco é indicado em quais situações?

Marchiori - O tratamento não é exatamente dentário pois ainda não é usado para restaurar ou recuperar dentes danificados, o que existe atualmente é a possibilidade de usar células-tronco para ajudar a recompor ou regenerar alguns tecidos importantes, como por exemplo, o osso que sustenta os dentes e que normalmente é perdido por doenças de gengivas, traumas ou infecções não tratadas (ou mal tratadas). Claro que ainda é uma possibilidade. Qualquer tratamento deverá ser regulamentado pela ANVISA e pelos Conselhos Federal e Regional de Odontologia, o CROSP aliás, apoia iniciativas que venham promover melhoria e inovação tecnológica e que tragam benefícios à população, eu não faria nada sem o apoio deles.

e-Band Repórter - Qual é a expectativa para os próximos anos com a evolução das pesquisas com células-tronco na odontologia?

Marchiori - A expectativa é de um futuro promissor. Ao falar sobre desenvolvimento de biotecnologia é claro que a meta é produzir técnicas e produtos que possam ser levados aos pacientes, mas isso nem sempre acontece de forma direta. Atualmente temos um controle bem maior da regeneração óssea, um exemplo é o uso de algumas moléculas como a proteína morfogenética recombinante humana 2 (conhecida como BMP-2) que é altamente indutora da formação de osso, mesmo quando injetada em músculo. No meu projeto de doutorado eu faço com que células-tronco de adultos produzam esta proteína para regenerar o osso mais facilmente. Porém, enquanto não licenciamos este tipo de terapia temos BMP-2 produzida no laboratório, o que nos ajuda muito, a empresa Proteobras por exemplo, purifica esta proteína para nós.

e-Band Repórter - É possível (ou será, daqui algum tempo) que um dente volte a nascer com o uso de células-tronco?

Marchiori - É possível sim, já temos conhecimento de técnicas que permitem a construção de órgãos completos e complexos como é o dente. Nossos dentes possuem diversos tecidos como esmalte, dentina e uma série de outros tipos de células na polpa dentária que está no centro deles, tecidos tais como vasos sanguíneos, nervos e até células-tronco, isso além de possuir uma estrutura de ligação com o osso ao seu redor que chamamos ligamento periodontal (peri significa ao redor). Por este motivo, não é tão simples fazer dentes a partir somente de células. Entretanto, pelo conhecimento obtido a respeito das moléculas envolvidas na transformação de células-tronco, que são como células "genéricas", em determinados tipos celulares especializados como odontoblastos (células formadoras de dentina) ou ameloblastos (células formadoras de esmalte) é possível fazer dentes.

e-Band Repórter - Existe alguma novidade neste tipo de tratamento divulgado recentemente?

Marchiori - Temos sim algumas novidades em uso de celulas-tronco originadas de polpa de dentes. Por exemplo, para a regeneração de tecidos. Alguns pesquisadores as utilizam para tentar reconstruir dentes, mas ainda não estão fazendo comercialmente apesar de bons sinais de que é possível. No caso do nosso grupo, transformamos em células de formação de osso, os osteoblastos. Estamos preparando o lançamento deste tipo de terapia mas ainda não podemos dizer quando será. Apresentei o trabalho de transformação destas células no congresso da Sociedade Europeia para Órgãos Artificiais (ESAO) que aconteceu na Macedônia neste semestre, e recebemos a indicação de melhor apresentação em regeneração de tecidos pela inovação de acelerar a transformação das células com o uso do laser de baixa potência, foi um orgulho para nós.

e-Band Repórter - O que o Dr. presenciou nas últimas palestras/congressos?

Marchiori - Como eu disse anteriormente temos grandes descobertas, principalmente em moléculas. No congresso Bone-Tec que aconteceu em Hannover na Alemanha em outubro e cujo tema foi regeneração óssea, eu estive com os maiores pesquisadores do assunto. Tive a oportunidade de conversar bastante com o professor Ulf Wikesjö e com o Dr. Cristiano Susin que é brasileiro radicado nos Estados Unidos, também da equipe do prof. Ulf. Conversamos sobre o uso da BMP-2 e há consenso sobre a diminuição das doses usadas para aumentar o sucesso com esta terapia, estabelecer doses ideais para cada caso é um desafio que enfrentamos, não adianta ter um material inovador e usar de forma errada. Estive também no congresso Biotechnica e vi muitas novidades em equipamentos para laboratórios que podem nos ajudar a separar células de pacientes de uma forma cada vez mais rápida, isso pode ser muito útil para prestar serviços de terapias celulares. Está na hora do Brasil crescer bastante nesta área.




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